LIGO anuncia primeira observação de colisão entre estrelas de nêutrons
Descoberta foi feita por colaboração global e abre nova área na astronomia
A busca por ondas gravitacionais vai de vento em popa, segundo os pesquisadores da colaboração entre os observatórios LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), nos Estados Unidos, e Virgo, na Itália. Após o anúncio de sua primeira detecção em 2016, o recebimento do Prêmio Nobel mais cedo neste mês por seus idealizadores, Rainer Weiss, Kip S. Thorne e Barry C. Barish, e mais três detecções do fenômeno desde então, uma conferência de imprensa foi chamada na última segunda-feira (dia 16), em Washington. O motivo: mais uma detecção de ondas gravitacionais (a quinta desde 2015), agora provenientes da colisão de duas estrelas de nêutrons a 130 milhões de anos-luz da Terra.
As ondas gravitacionais são um fenômeno previsto por Einstein em sua teoria da relatividade, porém ocorrendo em escalas tão pequenas que a possibilidade de detectá-los permanecia envolta em ceticismo. Elas seriam causadas pela movimentação de objetos com massa no espaço-tempo (a estrutura que permeia o Cosmos e sobre o qual atua a gravidade), criando ondas, como tremores após um terremoto, ou uma pedra arremessada na superfície de um lago. A primeira detecção de ondas gravitacionais, proveniente da colisão de dois buracos negros que estiveram orbitando um ao outro a milhões de anos-luz da Terra, foi feita em 2015, após 20 anos do início da coleta de dados pelos observatórios. Desde então, outras três colisões de mesma natureza foram detectadas com sucesso. O anúncio mais recente até então havia sido feito em setembro, quando o LIGO revelou que sua colaboração com o interferômetro Virgo permitiu uma triangulação muito mais precisa do sinal.
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Cientistas representando o LIGO se reuniram em Washington para anunciar a descoberta de um fenômeno detectado pela primeira vez na manhã do dia 17 de agosto: a colisão de duas estrelas de nêutrons. Os resultados foram publicados numa série de artigos científicos em revistas como Nature e Science, e anunciados ao público em dois painéis detalhando para imprensa e público os pormenores da descoberta.
Às 9h41 (horário de Brasília) do dia 17 de agosto, um sinal mais longo que o esperado chegou aos detectores Virgo e LIGO, com milisegundos de diferença. David Shoemaker, porta-voz da colaboração LIGO, mostrou em sua breve fala que, enquanto os sinais que os detectores captaram de colisões de buracos negros costumam durar menos de dois segundos, este se manteve por quase dois minutos. Dois segundos depois o telescópio Fermi da NASA captou um pico de raios gama vindos da mesma direção. Os membros da colaboração LIGO, cientes de estar diante de algo grande, emitiram um alerta de que havia um fenômeno importante acontecendo. Em poucas horas, 70 telescópios localizados tanto em terra quanto em órbita se voltaram para a região do cosmos em que a colisão acontecia, conseguindo captar imagens do evento em todo o espectro eletromagnético.
Dentre os primeiros a observar visualmente o fenômeno estava o time de cientistas da Dark Energy Survey (DES – colaboração internacional que busca evidências para a Energia Escura e da qual faz parte Rogerio Rosenfeld, vice-diretor do ICTP-SAIFR e professor adjunto do IFT-Unesp), que usando a Dark Energy Camera (DECam – um dos dispositivos de imagem digital mais poderosos existentes, montada no telescópio Blanco da National Science Foundation, parte do Observatório Interamericano do Cerro Tololo no Chile) conseguiram capturar imagens do evento. “Isso está além dos meus sonhos mais loucos”, disse Marcelle Soares-Santos, pesquisadora brasileira atualmente na Brandeis University, nos Estados Unidos, e que liderou o esforço pela Dark Energy Survey, que, apontando a DECam para a região do céu sugerida pelo LIGO e Virgo, investigou prontamente os corpos celestes e confirmou a descoberta, descartando qualquer outra fonte das ondas gravitacionais além da colisão. Nos dias seguintes à primeira observação, os telescópios acompanharam atentamente a evolução do evento, registrando quaisquer alterações das emissões eletromagnéticas, como luz visível, raios gama e ondas de rádio.
Descoberta
Estrelas de nêutron são corpos celestes extremamente densos, com uma massa maior que a do Sol comprimida em um espaço do tamanho de uma cidade como Nova York, criadas após a morte de uma estrela de tamanho médio, numa explosão chamada de supernova. As duas estrelas de nêutrons descobertas surgiram na galáxia NGC 4993 há milhões de anos atrás e, atraídas por suas gravidades, passaram a orbitar uma à outra, se aproximando até que, enfim, colidiram numa explosão chamada de kilonova, semelhante à supernova, porém em menor escala. A explosão, como observada pelos telescópios, produziu energia suficiente para criar elementos pesados, como ouro e platina, além das ondas gravitacionais e as radiações eletromagnéticas que foram detectadas.
Assim como a colisão de dois buracos negros que resultou na primeira detecção de ondas gravitacionais, o sistema de duas estrelas de nêutrons orbitando em conjunto já fora previsto, mas ainda não observado. “É algo que ocorre com certa regularidade em diversas galáxias”, disse Riccardo Sturani, membro do LIGO, pesquisador titular no International Institute of Physics (IIP) na UFRN em Natal (RN) e Visiting Fellow no ICTP-SAIFR. “A cada 100 mil anos por galáxia, aproximadamente. Mas é difícil de observar, pois não sabemos quando irá acontecer. Ninguém estava esperando quando [a detecção] aconteceu”. Apenas por esse fato, a descoberta anunciada na manhã de segunda-feira já é algo impressionante, porém não se limita a isso. Com ressaltaram os 14 cientistas que compuseram os dois paineis, foi também a primeira vez que detectaram ondas gravitacionais bem como emissões em todo o espectro de ondas eletromagnéticas (como luz, por exemplo, mas também raios gama e ultravioleta) provindas da mesma colisão. “Os raios gama são detectados diariamente chegando à Terra, mas não sabemos se provém de fenômenos semelhantes. Com os dados gravitacionais, poderemos realizar mais descobertas desse tipo e descobrir as fontes dessas emissões”, completou o Professor Sturani.
Combinar essas duas formas de detecções seria análogo a ouvir trovões e ver relâmpagos pela primeira vez, e abre um novo leque de possibilidades e novas descobertas científicas. Por exemplo, o fato de terem sido detectadas ao mesmo tempo confirma que as ondas gravitacionais se movem à velocidade da luz. David Reitze, da universidade americana Caltech e diretor executivo do LIGO comparou, durante o anúncio, a combinação de ondas gravitacionais e luz como “semelhante à transição de filmes mudos para filmes com som.”
“Bem-vindos à era da astronomia de ondas gravitacionais”, disse Laura Cadonati, pesquisadora da universidade Georgia Tech.
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Escola e Workshop sobre DFT e QIT no ICTP-SAIFR
Entre os dias 23 e 28 de outubro, o ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental, localizado no prédio do IFT-Unesp) recebe dois eventos que discutirão Density Functional Theory (DFT – Teoria do Funcional da Densidade) e Quantum Information Theory (QIT – Teoria da Informação Quântica).
Primeiro, entre os dias 23 e 26, acontece a School on Density Functional Theory and Quantum Information Theory, que é voltada para estudantes e pesquisadores de áreas correlatas à matéria condensada e QIT. Nela, os participantes irão se familiarizar com conceitos fundamentais das duas teorias e sua interface, e terão a oportunidade de apresentar suas pesquisas em sessões de pôster que ocorrerão em dois dos quatro dias. Em seguida, acontece a segunda edição do Workshop on Density Functional Theory and Quantum Information Theory, entre os dias 27 e 28, que almeja reunir especialistas em QIT, DFT e pesquisadores que trabalham na interface das duas, criando uma oportunidade de discussão acerca dos novos desafios e desenvolvimentos nas áreas.
Os participantes da escola também estarão no workshop e poderão ter contato com especialistas de diversas nacionalidades e universidades. Além disso, os trabalhos aceitos para apresentação tanto na escola quanto no workshop poderão ser publicados integralmente numa edição especial do Brazilian Journal of Physics.
Para mais informações, acesse http://ictp-saifr.org/DFTmQIT e http://ictp-saifr.org/wDFTmQIT.
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Grafeno: o material que não deveria existir e levou ao prêmio Nobel
Pesquisador do ICTP-SAIFR explicou em evento de divulgação científica o que é e quais as possíveis aplicações do material mais fino existente
Todas as primeiras quintas-feiras do mês, o ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental) realiza o Papos de Física, evento de divulgação científica que leva físicos para ambientes descontraídos, onde apresentam temas de física para o público leigo e respondem suas perguntas. Na última edição, que ocorreu no dia 5 de outubro no Tubaína Bar (Rua Haddock Lobo, 94, em São Paulo), o convidado foi Alexandre R. Rocha, pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e pesquisador associado do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP-Trieste), com a palestra intitulada “Grafeno: Como um material que não deveria existir levou ao prêmio Nobel?”.
O Professor Rocha, ele mesmo um estudioso das possíveis aplicações do grafeno, iniciou sua palestra com uma breve introdução à importância e versatilidade do carbono, átomo constituinte do grafeno e de outros materiais como o diamante, bem como o elemento básico de toda a vida na Terra. O carbono, disse, é um dos elementos mais versáteis, por possuir em sua última camada espaço para “quatro ligações com outros átomos, que podem se organizar de infindáveis formas”. Essas formas, porém, costumam seguir um conjunto de “regras” químicas, e as estruturas compostas pelo carbono costumam ser organizadas, ao invés de meramente aleatórias, sendo a forma mais estável a que dá origem ao grafite e, consequentemente, ao grafeno.
No grafite, os átomos de carbono se arranjam em estruturas hexagonais, semelhantes ao formato observado em favos de mel, criando películas de carbono empilhadas. Nos anos 60, três cientistas (David Mermin, Herbert Wagner e Pierre Honenberg), ao estudar as propriedades de organização do carbono, teorizaram que seria impossível na natureza que qualquer elemento se organizasse desta forma em apenas uma dimensão. Ou seja, uma única dessas camadas não se manteria unida, por conta das propriedades químicas e físicas do elemento.
Porém, André Geim e Konstantin Novoselov, professores na Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, ao observar dejetos de um outro estudo com grafite, descobriram que, sim, era possível uma camada unidimensional de carbono, e deram à sua descoberta o nome de grafeno, o material mais fino existente, com apenas um átomo de espessura, e que lhes rendeu o Prêmio Nobel de Física em 2010. O prêmio, no entanto, não lhes foi atribuído devido à descoberta do material, mas, sim, pela descoberta de suas propriedades.
O grafeno, além de extremamente fino, também se mostrou um material extremamente resistente, mais ainda que o diamante, e é também um condutor térmico e elétrico excelente, melhor que o cobre, pois neste arranjo hexagonal, os átomos se organizam no que é chamado de um anel aromático. Isso é, cada um dos átomos está ligado a apenas outros três, mas para satisfazer a “necessidade” do carbono de realizar sempre quatro ligações, os elétrons se movem constantemente pelos vértices da colmeia, sendo “passados” de um para outro, como num jogo de batata quente.
Após sua descoberta, o grafeno foi logo considerado como um “material do futuro”, e possíveis aplicações começaram a ser testadas, se valendo de seu tamanho reduzido, leveza e supercondutividade para a criação de microchips de alta potência e roupas inteligentes. Até hoje, porém, essas promessas ainda não se concretizaram totalmente, por uma série de razões. “No caso dos microchips, por exemplo,” o Professor Rocha explicou, respondendo a uma das questões da plateia, “o grafeno é um condutor tão potente que é impossível ‘desligá-lo’, e o funcionamento do chip depende do controle da corrente, como um interruptor.” Outras aplicações, porém, estão sendo testadas, como seu uso em telas sensíveis ao toque, usadas em smartphones, e, em combinação com outros materiais, já está sendo aplicado na produção de equipamentos esportivos. “Mas acho que ainda estamos longe de atingir todo o seu potencial”, comentou o Professor Rocha. Disse, também, que o grafeno ainda não é produzido em escala suficiente para ser aplicado ao mercado, mas que impulsiona a pesquisa em escala global e que existem projetos, como em Minas Gerais, que em 2016 deu início à implementação de uma planta de produção do material.
O próximo Papos de Física ocorre no dia 9 de novembro, no mesmo local, o Tubaína Bar (Rua Haddock Lobo, 94 – Cerqueira César, São Paulo), e o convidado será o Professor Horatiu Nastase, pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp, com a palestra “Líquidos e sólidos como hologramas de buracos negros”, na qual mostrará como teorias desenvolvidas para o estudo de buracos negros podem ser aplicadas para o entendimento das propriedades de certos tipos de líquidos e sólidos. O evento é gratuito e não é necessário realizar inscrição. Para mais informações, acesse http://ictp-saifr.org/papos/.
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Grafeno: Como um material que não deveria existir levou ao prêmio Nobel?
Evento de divulgação científica organizado pelo ICTP-SAIFR abordará a descoberta do material mais fino possível
Acontece nesta quinta-feira, 5 de outubro, mais uma edição do Papos de Física, evento de divulgação científica organizado pelo ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental), que traz todo mês um cientista para uma palestra e bate-papo em ambiente informal acerca de temas instigantes da física. O convidado da vez é Alexandre R. Rocha, pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e pesquisador associado do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP-Trieste), que falará sobre o grafeno, o material mais fino existente, com apenas um átomo de espessura, e que rendeu o Prêmio Nobel de Física aos seus descobridores.
O Prof. Alexandre, ele mesmo um estudioso das possíveis aplicações do grafeno, falará como ocorreu a descoberta desse material, suas propriedades aparentemente extraordinarias e se as expectativas acerca de suas aplicações se justificam. O evento ocorre no dia 5 de outubro, a partir das 19h30, no Tubaína Bar (Rua Haddock Lobo, 74 – Cerqueira César, São Paulo). A entrada é gratuita e não é necessário realizar inscrição. Mais informações, acesse http://ictp-saifr.org/papos/.
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Teoria das supercordas: sucessos e problemas em aberto
Em evento de divulgação científica do ICTP-SAIFR, teoria foi desmistificada para o público
No dia 14 de setembro, quinta-feira, o Tubaína Bar (Rua Haddock Lobo, 74, Cerqueira César, São Paulo) recebeu mais uma edição do Papos de Física, evento de divulgação científica organizado pelo ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para a Pesquisa Fundamental). O palestrante da vez foi Nathan Berkovits, professor titular do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e diretor do ICTP-SAIFR, que apresentou ao público presente a fascinante teoria das supercordas. Considerada por parte da comunidade científica como a “teoria de tudo” por tentar unificar a relatividade geral e a mecânica quântica, a teoria das supercordas é vista como um modelo promissor por grande parte dos físicos exatamente por propor soluções na fronteira entre as duas principais teorias da física do século XX.
Física Quântica e Relatividade Geral
A física quântica e a relatividade geral são duas teorias que funcionam muito bem em seus respectivos contextos, mas se mostram incompatíveis quando, em conjunto, tentam explicar fenômenos descritos pela outra. Antes de entrarmos em uma das propostas para resolução dessa incompatibilidade, vejamos como ambas teorias foram abordadas pelo Prof. Berkovits.
A física quântica se ocupa dos objetos muito pequenos e suas interações (átomos, prótons, neutrons, etc) e dá conta de fenômenos que não podem ser explicados pela física clássica. Seu desenvolvimento, associado ao estudo das radiações nucleares e das colisões entre partículas, levou à descoberta de inúmeras partículas fundamentais, entre elas os quarks (partículas que formam protons e neutrons), os gluons (partículas “cola”, responsáveis pela força entre quarks), e os bósons vetoriais (partículas que causam a radiação nuclear). A teoria também relaciona as interações entre partículas às forças conhecidas: eletromagnética (via fotons), fraca (via bósons vetóriais) e forte (via gluons). Na física quântica, conforme explica o palestrante, “as forças são sentidas por causa da troca de partículas”.
Já a Relatividade Geral, desenvolvida por Einstein para compreender melhor a gravitação, se ocupa da interação de objetos grandes, como, por exemplo, um planeta orbitando uma estrela. Segundo ela, a força gravitacional é causada pela curvatura no espaço-tempo por um objeto com massa. Quanto mais próximo do objeto, maior a força gravitacional que, por exemplo, uma estrela exerce sobre um planeta. Apesar de ser uma teoria consistente com dados experimentais, ela não consegue ser aplicada a distâncias muito pequenas, onde as leis da física quântica passam a fazer efeito, levando a resultados infinitos.
Assim, usando conceitos da Relatividade Geral, a interação gravitacional não pode ser explicada nos mesmos moldes das outras três forças. Qualquer construção de uma teoria de campo da gravidade leva a resultados infinitos que não podem ser eliminados usando técnicas de renormalização, que funcionam bem para as outras três forças mas, para essa, levam a soluções infinitas e, portanto, sem sentido.
Entra, então, a teoria das supercordas, que tenta unir as duas teorias propondo um novo conceito. Segundo ela, as partículas fundamentais não seriam pontuais, como geralmente nos é ensinado no ensino médio, com bolinhas representando elétrons, prótons e nêutrons, mas são, sim, ressonâncias de cordas unidimensionais, como um elástico ou uma corda de violão vibrando. Teorizadas como tendo tamanhos de 10-33cm, podem ser abertas ou fechadas e possuem frequências de vibração diferentes, o que determina as partículas que serão criadas.
“Mas do que é feita uma supercorda?”, se perguntou a plateia durante a apresentação. “São feitas de supercorda!”, respondeu o Prof. Berkovits. O super no nome refere-se à inclusão do conceito de supersimetria à teoria original das cordas. Segundo a supersimetria, para cada partícula que constitui a matéria (férmion) existe outra que é um bóson. Assim, as supercordas seriam responsáveis pela criação, ao mesmo tempo, de um quark (férmion) e de um s-quark (bóson), ou de um elétron (férmion) e um s-elétron (bóson), por exemplo.
Multidimensões
Um dos aspectos do nosso universo é que ele aparece ser formado por três dimensões de espaço e uma dimensão de tempo. As supercordas, porém, podem existir apenas num universo com nove dimensões de espaço e uma de tempo. Existe a possibilidade destas seis dimensões extras serem tão pequenas que não as detectamos. Esse modelo é conhecido como compatificação. Infelizmente, experimentos de alta energia, como no acelerador de Genebra, ainda estão testando essa possibilidade, mas não comprovaram-nas.
Teoria de tudo
O Prof. Berkovits explicou, antes de abrir a sessão de perguntas, que, com a teoria das supercordas, pretende-se unificar todas as forças fundamentais da natureza em uma única teoria que refuta a ideia de uma partícula fundamental idealizada como um ponto material, inadequado para formular a quantização da relatividade geral, e transformando-as em vibrações de supercordas. A natureza das cordas unifica a relatividade geral e a mecânica quântica, pois as partículas deixam de ser objetos pontuais e suas interações, mais suaves. Assim, as forças sentidas por essas interações e trocas de partículas poderiam ser explicadas tanto no campo da física quântica quanto da relatividade geral, além de prever novas partículas.
Mas ainda existem problemas em aberto na aplicação dessa teoria, pois, como mencionou Berkovits, a compactificação não é suficientemente compreendida para que as ressonâncias e interações das supercordas consigam descrever todas as partículas e forças da natureza. A esperança, porém, está na análise de dados cosmológicos, como a recente observação das ondas gravitacionais, e experimentos no LHC em Genebra, que podem identificar partículas supersimétricas ou, até mesmo, partículas novas que o modelo padrão não prevê.
A próxima edição do Papos de Física acontece no dia 5 de outubro, no mesmo local, e trará Alexandre Rocha, pesquisador do Instituto de Física Teórica da Unesp com a palestra “Grafeno: Como um material que não deveria existir levou ao prêmio Nobel?”. O evento é gratuito e não é necessário fazer inscrição. Para mais informções, acesse: http://www.ictp-saifr.org/papos/
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Minicourse on Machine Learning for Many-Body Physics
Curso em aprendizado de máquinas será ministrado em inglês por pesquisadores internacionais, no ICTP-SAIFR
Entre os dias 25 e 29 de setembro, o ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental) sediará o Minicourse on Machine Learning for Many-Body Physics, organizado por Nathan Berkovits (ICTP-SAIFR/IFT-Unesp), Alexandre Reily Rocha (IFT-Unesp) e Pedro Vieira (ICTP-SAIFR/IFT-Unesp/Perimeter Institute, Canadá). As aulas serão ministradas no auditório do IFT-Unesp e contarão com palestras dos pesquisadores internacionais Juan Felipe Carrasquilla (D-Wave Systems Inc., Canada), Roger Melko (University of Waterloo & Perimeter Institute) e tutoria de Lauren Hayward Sierens (Perimeter Institute).
O curso introduzirá técnicas modernas de aprendizado de máquinas para uso em estudos de problemas clássicos encontrados em matéria condensada, informação quântica e outros campos da física. Os tópicos abordados incluirão modelos de rede para física estatística, métodos de Monte Carlo, aprendizagem supervisionada e não supervisionada, redes neurais, máquinas Boltzmann e aprendizagem profunda. Além das aulas teóricas haverá atividades práticas de programação utilizando os softwares Python e TensorFlow.
O curso, gratuito, será ministrado em inglês, e as inscrições já estão encerradas. Para mais informações, acesse http://www.ictp-saifr.org/?page_id=15446
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ICTP-SAIFR organiza workshop para professores do ensino médio
Organizado por parceria internacional, workshop pretende capacitar professores em temas de física moderna
Em parceria com o Perimeter Institute (PI), instituto de ponta em física teórica do Canada, o ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para pesquisa fundamental — braço sul-americano do ICTP-Trieste) organiza nesse fim de semana a segunda edição do workshop Cutting-edge In-class Physics Resources (Recursos de Física de ponta para Salas de Aula). Destinado para professores do ensino médio, o workshop tem o objetivo de capacitar os professores a ensinar conceitos de física moderna para seus alunos.
Organizado pelos membros do PI Gregory Dick (Diretor de atividades de extensão em educação), Dave Fish (Consultor para atividades de extensão em educação) e Pedro Vieia (pesquisador e também professor colaborador no ICTP-SAIFR/IFT-Unesp), o workshop trará discussões, demostrações de experimentos em física moderna e sugestões de como aplicá-los em sala de aula. Dentre os temas abordados estão a Matéria Escura, Física Quântica e Astronomia, e os professores aprenderão a ensiná-los com material de apoio e atividades práticas criativas específicos para cada assunto. O material, criado pelo Perimeter Institute especificamente para aplicação no nível do ensino médio, foi testado diversas vezes no Canadá antes de ser aplicado e tem se mostrado um recurso acessível que professores podem alterá-los para suprir as necessidades de suas turmas.
O workshop acontecerá nos dias 16 e 17 de setembro, é gratuito e será ministrado em inglês. Para mais informações, acesse http://sictp3.ictp-saifr.org/ensino-medio/perimeterw/.
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Tudo o que você já quis saber sobre as Supercordas mas teve medo de perguntar
Próxima edição de evento de divulgação científica do ICTP-SAIFR trará o tema das supercordas
Imagine uma ida ao bar com os amigos numa quinta-feira. Vocês chegam, sentam, pedem bebidas, algum petisco e… aprendem física? É o que acontece todo mês no evento batizado de “Papos de Física”, um encontro gratuito para aproximar a ciência do público leigo. São vinte minutos de palestra, em que um pesquisador ou pesquisadora traz, com uma linguagem descontraída, longe do tom professoral, algum tema sobre sua área de atuação dentro da física. Depois da apresentação, é hora de passar a palavra para os espectadores, que podem fazer perguntas e saciar suas curiosidades. Em edições passadas já se falou de buracos negros, mecânica quântica, evolução das espécies e até sobre o sistema Cantareira. Quem organiza o encontro é o ICTP-SAIFR (Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental), instituto que realiza pesquisas de ponta em física teórica, criado em parceria com o ICTP-Trieste e a Unesp.
A próxima edição acontece na quinta-feira, dia 14 de setembro, no Tubaína Bar (Rua Haddock Lobo, 74, Cerqueira César, São Paulo), a partir das 19:30. O palestrante da vez será Nathan Berkovits, professor tiular do Insituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e diretor do ICTP-SAIFR, que apresentará a fascinante teoria das supercordas, também considerada como a “teoria de tudo”. Apesar de sua popularização nos últimos anos graças à internet e os intensos debates entre físicos, é uma teoria ainda pouco conhecida por não especialistas, portanto a palestra será uma boa oportunidade de conhecer um pouco mais sobre esta teoria que tenta unificar a relatividade e a mecânica quântica.
O evento é gratuito e não é necessário fazer inscrição. Para mais informções, acesse: http://www.ictp-saifr.org/papos/
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Descobrindo a relatividade
Primeira aula de minicurso de física teórica para alunos do ensino médio mantém alunos e professor engajados no ICTP-SAIFR
Começaram no último sábado, dia 19, os encontros do minicurso “Relatividade, Mecânica Quântica e Gravitação”, organizado pelo ICTP-SAIFR, braço sul-americano do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP-Trieste, na Itália). O minicurso, voltado para alunos do ensino médio com grande interesse pela física, tem como objetivo aproximá-los de tópicos em física moderna, assunto que não é abordado no currículo do ensino médio, mas que desperta a curiosidade dos jovens. “Sempre gostei de relatividade, de teorias que abrangem o universo, as estrelas e os movimentos no cosmos, então quando fiquei sabendo do curso, procurei me inscrever”, disse Leonardo Leal, aludo do 2o ano no Discere Laboratum. “Meu professor apenas citou em uma aula o que era a teoria da relatividade, e desde então venho pesquisando por conta, mas com o curso, acho que vou conseguir aprender de fato”.
Nesse primeiro encontro, os alunos puderam entrar em contato com as bases da teoria da relatividade de Einstein, e tiveram a oportunidade de testar e fixar conhecimentos adquiridos com a lista de exercícios distribuída após o curso. O professor, Pedro Vieira (professor colaborador do ICTP-SAIFR/IFT-Unesp e professor titular do Perimeter Institute, no Canadá), ficou contente com o nível de interesse e de participação dos alunos, que aproveitaram todo o tempo disponível durante o intervalo e após a aula, para fazerem perguntas. E os alunos, também pareceram gostar da aula, como disse Gabriel Batista, aluno do terceiro ano do Objetivo: “A aula foi bem divertida e explicativa, de um jeito que mantém a nossa atenção. Acho que ele explica bem tanto pra quem não tem uma base muito boa quanto pra quem tem, e mesmo assim consegue manter um nível alto.”
O minicurso acontece aos sábados pela manhã, em oito encontros no auditório do IFT-Unesp (campus Barra Funda), até o dia 23 de setembro. Para mais informações, acesse: http://sictp3.ictp-saifr.org/ensino-medio/minicurso/
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As estrelas, o universo e um copo de cerveja
Na primeira edição do semestre do Papos de Física, o ICTP-SAIFR convidou pesquisador da USP para desmistificar conceitos de cosmologia
O palestrante, Raul Abramo (IF-USP)
Na cena inicial do filme “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, de 1977, o personagem de Woody Allen, Alvy, é levado em sua infância para um psquiatra por sua mãe. “Ele está deprimido,” ela diz, “é algo que leu.” O médico pergunta a Alvy o motivo de sua depressão, e ele responde: “O universo está se expandindo.” A mãe de Alvy, irritada, grita com ele: “Mas você está no Brooklyn! O Brooklyn não está expandindo!”.
Apesar do efeito cômico da situação, essa cena nos faz pensar, mesmo sem perceber, sobre questões que cosmólogos vêm investigando há anos, como “se o universo está expandindo, o Brooklyn está se expandindo?” ou “o universo vai crescer até colapsar?”. Essas e muitas outras questões foram respondidas (ou pelo menos discutidas) por Raul Abramo, pesquisador do Instituto de Física da Usp, na primeira edição desse semestre do Papos de Física.
O Papos de Física é um evento de divulgação científica organizado pelo ICTP-SAIFR, instituto de física teórica localizado no prédio do IFT-Unesp. Uma vez por mês, o instituto convida um físico para trazer temas atuais de física teórica em um ambiente informal para o público leigo em palestras de vinte minutos, seguidos de debate com perguntas por parte da platéia. Nesta edição,o evento lotou o Tubaina Bar (Rua Haddock Lobo, 74, Cerqueira César, São Paulo) com a palestra “Afinal, o que está escrito nas estrelas?”.
Abramo iniciou a palestra contando a história do palimpsesto de Arquimedes, um texto do filósofo e matemático grego que permaneceu inédito até o final do século XX, quando foi descoberto por trás de um livro de rezas medieval, graças a técnicas de raios X. O texto havia sido lavado do pergaminho para ser reutilizado. “Assim como os historiadores e geólogos estudam diferentes camadas de tempo num mesmo substrato, os cosmólogos fazem o mesmo ao olhar o universo”, disse, se referindo às imagens feitas pelo telescópio espacial Hubble.
A imagem Hubble Ultra Deep Field
Essa imagem, conhecida como Hubble Ultra Deep Field, é a fotografia de uma pequena região do espaço, na constelação de Fornax, feita ente 2003 e 2004. “As galáxias parecem todas próxima, não? Mas na verdade estão muito distantes, tanto no espaço quanto no tempo”. Isso acontece, pois a luz que sai das galáxias até nós foi emitida em períodos diferentes, mas é captada no mesmo instante, e a imagem produzida só possui duas dimensões, não levando em conta a profundidade. Com esse tipo de conhecimento, os cosmólogos são capazes de estudar o tamanho e a história do universo, pois, como disse Abramo, “quando olhamos para o céu, olhamos para o passado”.
Após essa pequena introdução, foi aberta a sessão de perguntas para a plateia, que se mostrou especialmente curiosa em relação à misteriosa matéria escura, que ainda não foi detectada experimentalmente por não interagir com a matéria que conhecemos, mas compõe 80% de toda a matéria do universo. O próprio nome “escura” vem do fato de não ter sido enxergada, porém no modelo atual do universo e das partículas, sua presença corrobora observações que vão contra o esperado. “Se a gente olhar mais atentamente para essa imagem, podemos ver que as galáxias não estão distribuídas aleatoriamente, mas, sim, formando pequenos agrupamentos”, provocou Abramo. A força da gravidade, considerada uma força fraca pelos físicos, não seria suficiente para manter essa distribuição, e é aí que entra a teorética matéria escura, que exerceria uma força forte o suficiente para causar isso.
Além disso, a curiosidade do público foi tão grande acerca de outros temas de cosmologia que a conversa continuou depois do fim do evento. Dentre os temas de interesse estavam a formação de átomos na natureza e a expansão do universo.
Como Abramo explicou sucintamente, os átomos são formados nos núcleos das estrelas, onde há energia suficiente para realizar um processo de fusão nuclear. Ou seja, no interior das estrelas existem prótons, nêutrons e elétrons soltos, se movendo aleatoriamente, mas, ao se chocarem, se mantém unidos por uma energia de atração, formando o átomo mais simples, o de hidrogênio (composto de apenas um próton e um elétron). Porém, esses átomos também se colidem, formando átomos cada vez maiores até chegar no ferro, composto de 26 prótons, 26 nêutrons e 26 elétrons.
“E os átomos mais pesados que o ferro?”, perguntou um membro da platéia. Neste caso, respondeu Abramo, é necessária uma energia ainda maior, encontrada apenas numa supernova, a explosão que caracteriza a morte de uma estrela. Por serem um fenômeno relativamente raro, átomos mais pesados, como o de urânio, por exemplo, são mais difíceis de ser encontrados do que, por exemplo, o de hidrogênio.
“Mas e o Brooklyn,” o leitor pode estar se perguntando, “está se expandindo mesmo?”. Essa é uma ótima pergunta, que os cosmólogos também se debatem sobre, mas Abramo confirmou para o público que nesse caso, o Brooklyn continuaria bem. Na expansão do universo, são as galáxias que acabam se distanciando, porque a atração gravitacional é muito fraca entre elas. “Nós, aqui na Terra, estamos bem, mas em alguns milhões anos veremos todas as galáxias muito distantes de nós.”
A próxima edição do Papos de Física acontece novamente no Tubaína Bar, no dia 14 de setembro, e trará Nathan Berkovits, diretor do ICTP-SAIFR, com a palestra “Teoria das supercordas: sucessos e problemas em aberto”. Para mais informações, acesse: http://ictp-saifr.org/papos/
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